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Você já sabe que o jogo do bicho é uma das maiores instituições culturais e sociais da história do Brasil, mas uma coisa é certa: ele não recebe tanta cobertura quanto deveria – e, por mais que a história do jogo do bicho seja muito rica e trate de assuntos inerentes à nossa população, não há tantas produções culturais sobre ele.
Isso, porém, começou a mudar: nos últimos anos, é possível ver a dimensão que o jogo do bicho está ganhando. Se por um lado o costume dos apostadores está mudando (com hoje alguns deixando o poste de lado e pesquisando resultados na internet, por exemplo), por outro há um número cada vez mais de produções se dedicando a contar mais sobre a história do jogo do bicho.
Uma dessas iniciativas é um documentário recente, lançado ainda em 2022, que retrata uma parte mais escondida e até mesmo perigosa sobre o jogo – que está diametralmente distante de seus apostadores e de quem gosta de acompanhar a prática.
Chamada de “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho”, a produção foi encomendada pelo Grupo Globo, sendo transmitida originalmente pelo Globoplay, plataforma de streaming da empresa.
Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho
Dirigida por Pedro Asbeg (Mentiras Sinceras, O Deus da Raça, Cidadão Boilensen, Betinho e outras produções) e narrada pelo humorista Marcelo Adnet (Tá no Ar, Comédia MTV, Sinta-se em Casa, Mandrake), a série se propõe a passar por diferentes épocas e momentos do jogo do bicho (e, consequentemente, da história do Brasil).
Um desses momentos, claro, envolve a criação do jogo e seus motivos iniciais, envolvendo o barão João Batista Viana Drummond, que desejava angariar fundos para seu jardim zoológico localizado na Vila Isabel, no Rio de Janeiro. O sorteio ficou famoso, se espalhou para além das grades e muros do empreendimento e tornou-se extremamente popular.
Pessoas que se envolveram desde cedo com a atividade, coletando apostas, realizando sorteio e mantendo o jogo do bicho em funcionamento ficaram conhecidos como “bicheiros”, figuras populares no Brasil também por terem um jeito similar de se apresentar publicamente, com óculos chamativos, camisas estampadas e floridas e por cultivarem bigodes ostensivos e grandes.
Para além de toda a parte mais inofensiva, porém, também há um lado mais obscuro do jogo do bicho: no documentário, o diretor analisa as possíveis ligações da prática com diferentes esferas do crime organizado, incluindo milícias, policiais corruptos e tráfico de drogas.
A ligação do jogo do bicho com outros traços da cultura nacional, porém, vai além: há uma ligação muito grande da atividade com as escolas de samba, principalmente no Rio de Janeiro (que é até hoje o lugar onde mais se joga no bicho e onde a prática nasceu, criou raízes e se estabeleceu). Bicheiros já se tornaram padrinhos e até mesmo diretores de escolas de samba, destilando sua influência não apenas nas escolas em si, mas também nas comunidades onde os sambistas se criaram e desenvolveram sambas e desfiles na Sapucaí, a passarela sambista do estado do Rio de Janeiro.
A ligação com o futebol também é notória: Castor de Andrade, famoso bicheiro carioca, já foi diretor de um dos clubes mais históricos de todo o Brasil, o Bangu Atlético Clube, fundado oficialmente em 17 de abril de 1904 – ainda que alguns estudiosos afirmem que sua fundação não-oficial tenha se dado em 6 de fevereiro de 1889.
Entrevistas e dados históricos
O documentário não se baseia apenas na história para montar a sua narrativa e informar telespectadores da tradição, benefícios e problemas do jogo do bicho. Eles também entrevistam figuras históricas muito relevantes no cenário social, político e cultural do país para trazer ainda mais diversidade e complexidade para a trama.
Algumas dessas pessoas incluem o carnavalesco Milton Cunha (que também é comentarista do carnaval na Rede Globo), a urbanista Tainá de Paula e também uma das figuras políticas mais relevantes na história recente do Brasil, especificamente no Rio de Janeiro: o deputado Marcelo Freixo (atualmente no PSB).
O motivo de reunir diferentes figuras em torno do tema é simples: para além de fatos, o jogo do bicho divide opiniões em todo o Brasil. Há quem seja a favor da prática, há quem seja contra e há, também, quem escolha opiniões menos intensas, buscando, por exemplo, a legalização da prática – especialmente para desvincular possíveis laços criminosos dela.
Dividido em quatro episódios, a série já pode ser assistida nos canais mencionados anteriormente – e é uma ótima forma de você tirar suas próprias conclusões sobre a prática. Para mais informações sobre esse pedaço da história e da cultura popular brasileira, nos acompanhe e confira outras notícias.